Falar de nós mesmos é sempre muito complicado. Não sei se todo mundo me vê do jeito que penso ser.
Eu, Emanuele Canalle, segunda filha do casal de agricultores Angelo e Salette, nasci aos seis dias do terceiro mês do ano de mil novecentos e noventa e um, às dez horas e trinta minutos de uma quarta-feira. Nasci no Hospital São Roque na cidade de Luzerna em Santa Catarina, Brasil. Meus pais residentes no interior de Joaçaba optaram pelo meu nascimento na cidade vizinha por questões de saúde, os hospitais de Joaçaba estavam com suspeita de infecção hospitalar. Minha mãe, muito prevenida não pensou duas vezes e disse: “Vamos pra Luzerna!”.
Residi em Santa Helena, com meus pais e meu irmão, até aos 15 anos. Um lugarzinho pacato, característica vila de interior. Com um armazém de secos e molhados, um mercado, uma bodega e um mercado-bodega. Os pontos turísticos dessa vila são a Igreja de Santa Helena, padroeira da comunidade, construída por meu avô e seus companheiros em 1956; e a Santa Bárbara, uma imagem posta em pedestal no ponto mais alto da vila para proteger das tempestades. Possui uma escola, onde estudei do Jardim de Infância à terceira série do fundamental.
Foi nessa escola que conheci os números e as letras. Todos os dias eu e meu irmão fazíamos o trecho de um quilometro e meio a pé, no tempo em que duas crianças podiam andar a pé por aí. O que me marcou muito nessa época eram os temas de escrever os números até cem, mas eu sempre fazia mais, por vezes ultrapassava três páginas de números seqüenciais. Foi na Escola Reunidas Anita Lopes Vieira que aprendi frações: “Frações nos alimentos”. Com esse tema fomos para a Feira de Matemática, regional e estadual. No desenvolvimento desse projeto foi envolvida toda a turma, eu e mais duas colegas fomos as representantes. Nós comemos tanto. Era fruta, bolo, barra de chocolate, suco... muitos alimentos gostosos. Como o tempo de preparação foi de quase um mês, mais as duas apresentações nas duas feiras toda a turma comeu muito.
Na quarta série mudei de escola, fui estudar no NUPERAJO – Núcleo Pedagógico Rural de Joaçaba, ainda no interior do município de Joaçaba. Meu irmão já estudava ali, pois a escolinha próxima a nossa casa não oferecia a segunda etapa do ensino fundamental.
Ali descobri a grande alegria da dança, nas séries de oito movimentos, nas coreografias cronometradas. O grupo de dança da escola apresentava-se nos festivais e eventos do município. Sempre ficamos muito bem colocados, modéstia à parte nós dançávamos muito bem. Descobri também o judô, comecei nas escolinhas e no ano seguinte estava lutando pela equipe joaçabense.
Com 15 anos, já no ensino médio e lutando pela AMOJ – Associação Meio Oeste De Judô, comecei cuidar de uma menina de 3 anos. Foi uma experiência muito boa para mim, pois desenvolveu muito a minha responsabilidade e me incentivou a optar pela formação em um curso superior na área educacional.
Eu treinava todas as noites no tatami com meus colegas e o Sensei, ganhei um campeonato estadual pela nossa equipe. Porém tinha várias lesões no joelho esquerdo resultado de um desalinhamento ósseo. Precisei abandonar os tatamis e operar. Na época, cinco anos atrás, foi muito difícil para mim, mas minha família e meus amigos me ajudaram muito. Superei as duas semanas de cama; os dois meses de muleta e fisioterapia. Ao terminar o tratamento meu fisioterapeuta, vendo meu interesse em crianças, me ofereceu emprego como babá do filho dele. Fiquei muito feliz. Trabalhei para a família dele por 2 anos, pois decidi que precisava me dedicar mais aos estudos. Fiz vestibular na Udesc, queria cursar Medicina Veterinária na época, não passei. Mas havia o processo seletivo da Acafe, passei em agronomia na Unoesc, senti que não era bem isso que eu queria. Ao sair o resultado do ProUni recebi uma grande notícia: Bolsa de 100% para a Licenciatura em Pedagogia.
Iniciei o curo no primeiro semestre de 2009. Logo consegui um estágio na área e vi que estava completa, que queria continuar na educação, atuando para melhorar a vida das crianças que passarem por mim.
Sou efetiva na prefeitura municipal de Luzerna, onde fixei residência, atuo como auxiliar de turma na Educação Infantil. Sou bolsista pesquisadora do Programa de Mestrado em Educação da Unoesc, onde desenvolvo pesquisas juntamente com meus professores. As pesquisas aqui realizadas contribuem para a melhoria da educação no município e na região, em todos os níveis. Hoje estou licenciada, pois realizo mais um de meus objetivos: intercâmbio! Por cinco meses ficarei no Chile estudando e, principalmente conhecendo.
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