domingo, 10 de julho de 2011

Arquivos

Ela estava ali, como todos os outros dias daquela semana, esperando seu ônibus chegar.
Olhava ao redor, as pessoas que passavam, algumas olhavam para ela e sorriam outras a ignoravam completamente. Olhava o movimento das folhas ao vento, clássica distração, "como aquelas árvores cresceram ou fui eu quem encolheu?" pensava.

Às vezes o tempo passa tão rápido que nem notamos as
 transformações acontecendo, as meninas tornando-se 
mulheres - em cada passo dado com um pouco mais 
de ginga nas cadeiras, em cada foto captura em frente ao espelho, 
em cada roupa provada, em cada salto, em cada sorriso. As meninas são tão 
sensíveis nessa fase, tão delicadas. 

Ela vagava em seus pensamentos, medindo o tempo através da fisionomia das crianças que viu crescer. Pensava que o tempo medido em anos é convencional claro, porém engana. Cada rosto que lhe vinha a mente era acompanhado de uma descrição básica, como se todos os seus conhecidos fossem catalogados e seus registros armazenados em na gavetinha de um imenso arquivo. A linha do tempo mostrava a permanência e os principais acontecimentos que essa pessoa teve em sua vida.

"Moça, Por favor que horas são?" lhe pergunta um cidadão que chega no ponto de ônibus. Ela ainda um pouco distraída consulta seu relógio duas vezes antes de responder com um sorriso no rosto: "São 11h30m, senhor!". Olham para a rua o ônibus está parado no sinal, dirigem-se até a ponta da calçada, o  ônibus vem, para, ambos sobem, sentam cada um de um lado do corredor.

Ela não lembra dele. Ele olha para ela e pensa na menininha que um dia encontrou chorando e brigando com a mãe pois queria um caderno novo. Nesse momento ela está fazendo um desenho com o dedo no vidro embaçado, ele continua à observá-la. Ao terminar seu desenho ela aprecia, dá um sorriso e com seu celular captura a imagem, confere, "ficou bonito" fala pra si mesma, pega seu bloco de anotações, escreve algo gurda-o novamente em sua bolsa. Ele admira a mulher em que ela se tornou  estranha por vê-la assim, puxa em seu arquivo todas as informações sobre ela, só consegue pensar "Como ela cresceu, está linda!". Ela olha para ele, encontra-o sorrindo, retribui o sorriso. Está chegando a hora de descer, ela arruma sua bolsa no ombro, levanta e dirige-se para a porta. Antes de descer os degraus ainda dá uma última olhada no homem e pensa "ele não me é estranho!".

Quando irão se encontrar de novo?

#Por todas a vezes que a busca em meus arquivos mentais falhou! 

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